Temos uma inundação na cozinha. Verificada: É porque deixaram a torneira da pia aberta. Há que fechá-la.
A consciência dos problemas ambientais, numa época em que muito pouco se falava disso, a tive ligada primeiro a espécies ameaçadas, era ainda criança. Foram os Micos-leão-dourados do Dr. Aldemar Coimbra-Filho, que a Dra. Ruth Christie, uma estrangeira que começou a atuar à conta de problemas no seu bairro, o Alto-Leblon, me veio chamar para a luta pela preservação dessa espécie ameaçada, o mico. E depois não paramos, foram as baleias, as borboletas da praia, um papílio e parides, depois muitos exemplares da flora, e a luta ampliava-se. Quando afinal o governo do ditador mais cruel que tivemos, Garrastazu Medici, assinou o decreto da Reserva para o mico, Leontopithecus rosalia, à conta de nosso barulho e constantes manifestações; mas não deu o dinheiro para a implantação da Reserva.
Continuamos a insistir. Por fim o Rei da Dinamarca entrou com os recursos, sensibilizado com a beleza do animal, a mesma que quase o levara à extinção, caçado para ser vendido como animal de estimação, “o gato-macaco-leão pintado a ouro”, que o Pingafetta havia descrito há quinhentos anos. Com isso pensamos que havíamos feito algo de valoroso. No entanto a realidade é sempre bem mais complicada do que parece a princípio. A fragmentação do território onde vive o mico, mesmo com a reserva de Poço das Antas, essa que foi criada em 1974, não resolvia o problema, fizeram-se depois corredores entre as varias áreas onde ‘vive’ o leão-dourado, também não resolveu, e o mico continua uma espécie ameaçada de extinção, mas ainda existe graças ao que fizemos. As baleias levamos ao defeso de sua caça, o Mundo todo parou, mas o Japão recusou-se a assinar o tratado, os japoneses gostam muito de bife de baleia. Bem, toda uma vida não chega para nada, o mundo é muito grande, e a ganância dos homens também. Agora vai-se pagar o preço maior.
Há mais de cinquenta anos venho batendo na mesma tecla, explicando que há espécies que existem só num lugar, e só naquele lugar, é o que se chama endemismo, e que temos de preservar o lugar para manter a espécie, como no caso do Mico-leão-dourado, que só existe nesta zona de Mata Atlântica, abaixo dos trezentos metros de altitude, numa faixa costeira, junto à região dos lagos fluminenses. Dados que determinam suas condições naturais de existência, é como uma receita de bolo, sem os ingredientes todos não há bolo.
Insistir mais.
Sem medo de destruir a tecla, sigo batendo nela, mas já é um bocadinho tarde, ninguém ouviu, e ninguém quer saber. Curiosamente essa febre que em mim não passa, é dos jovens, como a Greta, e como esses outros que agora colam-se a obras de arte nos Museus, para nos alertar sobre a nossa própria estupidez, e para a urgência do problema, mas os ouvidos mocos querem lá saber. Quando se destrói a casa de uma espécie, acabou tudo para a espécie. E a nível global estamos destruindo a nossa. Interferindo com forças que não poderemos controlar.
Água solta.
Como todos sabemos, há três formas preponderantes de mantermos a água aprisionada: 1. Deixá-la quieta nos lençóis freáticos, re-alimentados através de solos permeáveis. 2. Deixá-la dentro da matéria verde, árvores, bosques, matas, florestas, campos, etcétera. 3. Deixá-la congelada nos Glaciares e nas Calotas polares. Para tudo isso é preciso frio. Se aquecermos o ambiente a água, nele existente, começa a circular, dentro dos limites de temperatura de sua existência nos três estados.
CAUSA.
Conforme os cientistas do ambiente avisaram há décadas, estamos aquecendo o planeta a níveis que fazem a água se desprender dos seus ambientes de grande acumulação, e entrarem no processo de seu Ciclo, o CICLO DA ÁGUA, que é muito simples: Derrete-se acima do zero grau, evapora-se acima dos cem. A superfície de um lago, de um rio, dos oceanos, com a incidência solar, e num ambiente quente, evapora sucessivas quantidades de água que vão para a atmosfera, a camada gasosa que envolve o planeta, e ‘atmos’ é grego para vapor, esse mesmo que surge da evaporação, e se vai condensar promovendo chuvas, tempestades e furacões para além de muitos outros fenômenos encadeados, mexendo com imensas forças que há por toda parte no mundo. O mesmo ambiente quente a nível global faz derreter o gelo onde este existe, também liberando mais água para o seu ciclo, que se vai tornando intenso cada vez mais, destruindo tudo uma vez que a água solta de suas prisões é força incontrolável, e interfere com tudo no planeta.
EFEITO.
Como se vê, as ditas alterações climáticas, que hoje tanto se quer combater, não admitem combate, pois seus efeitos são insanáveis. Toda e qualquer solução só existe a montante, como na cozinha que se alaga à conta da torneira aberta, e não tem outra solução que fechar a torneira, na Natureza é a mesma coisa. Temos de acabar com a causa das alterações climáticas, que é só uma, o AQUECIMENTO GLOBAL. Tudo mais é fantasia e perda de tempo. Supor que vai aparecer uma solução tecnológica milagrosa que irá resolver o problema, é tão estúpido quanto se acreditar em que o mágico de circo corta mesmo a mulher em duas e depois a junta outra vez.
MAIS DE METADE DA HUMANIDADE FICOU DE FORA
Desde 1995, alarmados com a ação violenta do clima por toda parte, que os membros da ONU resolveram criar uma Conferência anual para acompanhar o problema, e supostamente implementar soluções. No ano de 2022, no Egito, realizou-se a 27ª Conferência, que se chama COP, Conference of the parties, e que visa estabelecer ações para evitar o aquecimento global. Nesta 27ª ficaram de fora outra vez muitos dos países, ‘parties’, China, Índia, Rússia, que ao os somarmos a África, que por sua impotência e atraso econômico pouco pode fazer, temos, populações que resultam em mais de metade dos seres humanos que estão fora da Conferência, e dos que participam grande parte põe os interesses econômicos acima das medidas necessárias para atacarmos a causa, vale dizer, ficam também de fora do que estamos buscando: uma solução para as alterações climáticas, que são, de momento, a face visível de nossa estupidez. Mas muito mais irá aparecer. Recebemos um planeta lindo, com tudo em seu lugar, com funcionamento perfeito, e fizemos tudo para destruí-lo. Estamos conseguindo efetivamente.
RELAÇÃO.
Na relação de causa e efeito, a geralmente menos considerada é a da estupidez humana, que é vasta, envolvente, crescente e se vai tornando absoluta, orquestrada pela ambição individual, em detrimento da situação coletiva, esquecendo que fazemos parte dela, tanto para as maravilhas quanto para as desgraças.
Imagem de capa: Domínio público, por Pixabay.



