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Por quem os sinos da saúde digital dobram? É preciso garantir a procissão para a literacia em saúde

Por quem os sinos da saúde digital dobram? É preciso garantir a procissão para a literacia em saúde

Hospitais, profissionais, comunidades e famílias estão cada vez mais perto através da digitalização da saúde.

A cada seis a oito anos, o conhecimento médico duplica com a introdução de procedimentos médicos radicais e levando melhorias evidentes (OCDE, 2019).

Sabendo que as inovações médicas levam na maioria das vezes a tratamentos inovadores e a tecnologias avançadas, o certo é que a qualidade da saúde e a percepção de quem a recebe ainda é muitas vezes não atendida (OCDE, 2019). A OCDE (2019) considera a  literacia em saúde o ingrediente básico para a garantir a qualidade.

Isto porque quando se garante o acesso a compreensão e o uso correto de recurso de saúde, mesmo os digitais, estamos a garantir melhores resultados em saúde e melhores decisões em saúde.

A integração  digital no dia a dia da saúde mostra-nos pacientes mais atentos ao virtual, com necessidade de acesso aos registos eletrónico pessoais, com os profissionais a trocarem informação do paciente,  imagens médicas, diagnósticos e até intervenções cirúrgicas à distância.

A proteção dos dados pessoais

Aqui, neste domínio de troca de informação é preciso atender à necessária proteção de dados pessoais. Esta segurança de dados deve estar em qualquer projeto de desenvolvimento de plataformas digitais, mesmo que possa ser urgente transferir uma imagem ou dado sobre o paciente. E este caso significa que o ato do paciente, na sua urgência, pode negligenciar o risco de utilização futura indevida dos seus dados.

A interoperabilidade ao serviço da agilização

O processo em rede, a interoperabilidade interna do hospital para seguir o curso de navegabilidade do paciente no sistema, e a sua ligação cada vez mais real para além das portas do hospital, entrando pelas casas dos pacientes para que eles possam também monitorizar a sua saúde é já uma realidade sem retorno e essencial à agilização do processo.

A navegação dos dados do paciente nas redes virtuais agiliza sem precedentes a tomada de decisão. Com alguns riscos, que é preciso acautelar, de segurança da informação entre hospitais, entre profissionais e entre profissionais e os pacientes.

O cuidado com a falta de equidade

Nem todos têm internet. Nem todos têm acesso a computador. Nem todos os telemóveis são de última geração, capazes de suportar uma quantidade imensa de dados. E nem todas as pessoas estão preparadas para lidar com a informação em saúde à distância de um click.

Os riscos de alguma falta de equidade estão presentes. Nem todos sabem aceder ao virtual de forma rápida e compreensível. Há dados que reportam que há mais de 30 % de pessoas no mundo que não têm internet. E não estamos a falar só de países em desenvolvimento.

A baixa Literacia em saúde coloca o paciente em risco (Murphy-Knoll, 2007).

Na saúde, o cuidado para o capitalismo digital

Kickbusch (2019), uma das mentoras e fundadoras da Carta de Otawa vem alertar no seu editorial em 2019 para o risco de alguns perigos que a saúde virtual pode trazer.  Kickbusch (2019) refere expressamente “Shoshana Zuboff (2017) alerta sobre o capitalismo de vigilância, Olivia Banner (2017) explora como as vozes dos pacientes na indústria de saúde digital criam uma nova forma de biocapitalismo comunicativo e Barbara Prainsack (2017) levanta questões profundas sobre a ética e a política da medicina personalizada”.

Neste sentido, a formação ética das organizações e dos seus profissionais tem de ser uma matéria incluída nos currículos presentes e dos futuros profissionais (Mantovani, Castelnuovo, Gaggioli e Riva, 2003).

Kickbush vai mais longe no que respeita ao vocabulário usado em 1986 na Carta de Otawa, e aconselha a sua atualização:  onde se diz que “a saúde é criada no contexto da vida cotidiana, onde as pessoas vivem, amor, trabalho e diversão”, Kickbush (2019) sublinha que “hoje devemos adicionar os verbos como o google, twitter e o chat a esta lista de comportamentos cotidianos.

Telesaúde: uma boa experiência se humanizada

Kieserman (2021) refere um estudo em que 94% das pessoas que experimentaram a telesaúde relataram satisfação com a sua facilidade e conveniência, afirmando os pacientes que gostam do encontro individual com seu médico enquanto estão sentados na sua própria casa.

Só o fato do paciente poder, de forma confortável, através de uma visita virtual, não ter de ficar à espera na sala, juntamente com uma série de outras pessoas doentes, só isso, gera maior conforto.

No entanto, quando este envolvimento do paciente só se concretiza verdadeiramente se os profissionais de saúde fizerem uma real parceria com os pacientes, e estes compreendem as vantagens para ambos.

Conselheiros de saúde digital ou navegadores de literacia em saúde

Num estudo de  Wang e outros (2021), com uma amostra final de 273 participantes de um grande hospital, verificou-se que a existência de um conselheiro virtual supera muitas das barreiras relacionadas com a literacia em saúde, no uso de ferramentas digitais tradicionais. Para além disso os autores (Wang et al, 2021) destacam a importância de  poderem ser recolhidos nestas interações, históricos de saúde de populações vulneráveis, com vista a uma melhor intervenção futura. O uso de um conselheiro virtual para recolher histórias de famílias pode superar as barreiras relacionadas com a literacia no uso de ferramentas digitais

Alertas e memorandos: estrelas da memória

Continua a ser necessário no digital o despertar das memórias do paciente para uma melhor adesão. Assim é útil que o sistema de saúde onde o profissional se integra, assim como ele próprio, recorra a alertas e memorandos para acionar a memória do paciente para uma melhor adesão terapêutica e seguimento de instruções de saúde.

 As notificações e alertas no telemóvel, seja para confirmar consultas como, de uma forma mais personalizada, alertar para o horário da medicação, os lembretes por e-mail, o acesso às apps hospitalares ou da saúde de proximidade, o alerta telefónico para a vacinação, a utilização de sms para fazer educação em saúde, com pequenos textos e links de navegação ajudam a melhorar o nível de atenção da pessoa sobre a sua saúde e promovem o seu maior envolvimento e participação.

Para que queremos os portais de saúde?

Os portais de saúde, se forem interativos e permitirem o acesso, a compreensão e o uso de recursos de saúde necessários aos paciente apoiam o desenvolvimento das competências digitais em saúde.

 Os portais devem ajudar no acesso rápido de prescrições, sobretudo nas doenças crónicas, com toma regular e permanente de medicação.

Em qualquer lugar e sem a deslocação a organização de saúde, a qualquer hora do dia  pode solicitar ao seu médico, permitindo uma qualidade de serviço muito efetiva, poupando custos de deslocação e de tempo.

Através dos portais caminha-se para a centralização do processo médico do paciente, podendo, através de um acesso restrito com password aceder ao seu processo clínico.

A comunicação com o seu profissional, ou outros, é melhorada se se respeitarem os prazos de resposta e as perguntas podem ser várias e não confinadas aos 15 minutos da consulta.

Na Inteligência Artificial, queremos os comandos fáceis para uma resposta à saúde

A Inteligência Artificial (IA) é definida por Kaplan e Haenlein (2019) como ‘A capacidade de um sistema de interpretar corretamente os dados externos, para aprender com esses dados e usar essas aprendizagens para atingir metas e tarefas específicas por meio de adaptação flexível”

Neste caminho imparável do digital na vida humana, a Inteligência Artificial (IA) vai tomando formas, ramificando, e penetrando no consciente e inconsciente cultural popular, através do suporte dado por ferramentas virtuais que cada vez mais apoiam a tomada de decisão. Chega-se a falar que até pode substituir, por vezes, a decisão, face a tantas opções de resposta para as dúvidas, como é o caso do CHAT GPT.

Kickbush (2019) destaca ainda a importância da robótica social, que integrará facilmente os  cuidados de enfermagem. Citando Campa (2016) Kickbush refere que estes robôs estão a ser usados para “cada vez mais permitir a interação com humanos a um nível emocional, como por exemplo, para confortar e entreter idosos solitários ou pessoas com demência”

A AMA tem incentivado a reflexão sobre o digital na saúde e proposto medidas concretas como:

Mais Passos na saúde digital

Identificar e apresentar estudos de caso eficazes e melhores práticas em todas as especialidades  
Investir num vocabulário comum para cuidados feitos através de plataformas virtuais, para ajudar a assegurar a eficiência e evitar mais complexidade  
Educar o paciente para a cautela da transferência de dados em momentos de “urgência”  
Investir na educação digital em saúde nos cursos de saúde e das áreas que integram a saúde como o social e a educação  
Preparar os profissionais de saúde (e outros) na interação humanizada da consulta à distancia  
Partilhar as oportunidades, as boas práticas e as aprendizagens  nos cuidados digitalmente habilitados que podem resolver questões da força de trabalho e burnout  
Colaborar para fornecer educação sobre as abordagens, resultados e impacto com base na especialidade, tendo em conta as necessidades dos pacientes  
Comprometer-se com os princípios da equidade e da inovação na implementação de projetos  
Ajudar a garantir que a relação paciente-médico continua como o “coração e alma” da saúde, e apoia os cuidados liderados por médicos, baseados em equipa  
Colaborar em esforços de advocacia alinhados e  focados em abordar a fragmentação dos cuidados através de uma hiper especialização  
Prosseguir as mudanças necessárias do sistema de saúde, com um avanço nos cuidados de saúde através do digital, implementando politicas públicas promotoras da saúde digital

Source: Own elaboration, based on AMA (2022)

Conclusão

Face a uma maré de grande enchente do digital na saúde, já ouvimos ao longe  os sinos do digital a tocarem fortemente, como um chamamento, anunciando vagas e mais vagas de grandes mudanças. Neste caminho,  devemos garantir uma procissão de maior crença e consolidação na literacia em saúde, para uma maior equidade, inclusão do cidadão e sua participação. Os resultados desta envolvência e preparação de um melhor acesso, compreensão e uso dos recursos digitais têm necessariamente de trazer melhores resultados em saúde, melhor qualidade de vida, pois são inevitáveis.

Referências

AMA. (2022). Future of Health Closing the Digital Health Disconnect: A Blueprint for Optimizing Digitally Enabled Care. American Medical Association.

Campa, R. (2016) The Rise of Social Robots: a review of the recent literature. Journal of Evolution and Technology, 26, 106–113. De Leeuw, E. (2018) The short-sighted sycophant’s selfie. Health Promotion International, 33, 1–3.

Kaplan, A. and Haenlein, M. (2019) Siri, Siri, in my hand: who’s the fairest in the land? On the interpretations, illustrations, and implications of artificial intelligence. Business Horizons, 62, 15–25.

Kieserman, B. (2021). Telemedicine: Work for patients and doctors [online]. Disponível em: https://www.physicianspractice.com/view/telemedicine-working-for-patients-and-doctors

Kickbusch, I.(2019) Heath promotion 4.0. Editorial. Health Promotion International.

34, 179–181 doi: 10.1093/heapro/daz022

Mantovani, F., Castelnuovo, G., .Gaggioli, A., & Riva, G. (2003). Virtual reality training for health-care professionals. Cyberpsychol Behav.6(4), 389–395.

Murphy-Knoll, L. (2007). Low Health Literacy Puts Patients at Risk: The Joint Commission Proposes Solutions to National Problem. Journal of Nursing Care Quality [Internet]. Available from: https://journals.lww.com/jncqjournal/Citation/2007/07000/Low_Health_Literacy_Puts_Patients_at_Risk__The.3.aspx

OCDE (2019), How’s Life in the Digital Age?: Opportunities and Risks of the Digital Transformation for People’s Well-being, OCDE Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/9789264311800-en.

Wang, C., K.Paasche-Orlow, M.K.,   Bowen  , D. J.,   Cabral  . H.,     Michael R.  , et al (20…).   Utility of a virtual counselor (VICKY) to collect family health histories among vulnerable patient populations: A randomized controlled trial. Patient Education & Counseling. 979-988. https://doi.org/10.1016/j.pec.2021.02.034

Foto de capa: Domínio público, por Pixabay.

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