Há algum tempo lia sobre como seriam as cidades do futuro.
E uma das primeiras coisas que me ocorreu era se realmente o título seria adequado: porque falar em cidades do futuro se hoje é o momento em que vivemos? O que gestores públicos e entidades civis podem e devem fazer para que esta transformação ocorra hoje e não num futuro utópico? Como áreas interdisciplinares podem trazer sua contribuição?
Quais seriam estas contribuições? Como cada um individualmente pode fazer a sua parte?
O caminho que temos a construir é lento e longo.
As estruturas arquitetônicas podem facilmente ser esboçadas em excelentes projetos, mas colocá-los em pé com eficiência sustentável e com custos módicos é bem mais difícil…
No caso específico da matéria que lia, eram apontadas todas as possibilidades tecnológicas e de planejamento que as cidades terão no futuro e que poderiam melhorar os modos de ser e estar em centros urbanos. Acontece que na minha compreensão não adianta a melhor tecnologia do mundo se as pessoas simplesmente não são capazes de adotar hábitos pessoais e sustentáveis de vida!
Para além de tudo, temos o caminho da educação para a sustentabilidade em muitos e variados campos. Este talvez seja o mais difícil e demorado. As pessoas de fato se conscientizarem e mudarem suas ações.
As cidades precisam ainda encontrar modelos para se tornar inteligentes a um custo razoável, de forma que os cidadãos se sintam mobilizados a participar. Uma verdadeira rede humana de concidadãos. Onde o que afeta um, afetará, de uma forma ou outra, todos.
Acredito muito em mobilização responsável e a elaboração de instrumentos de cobrança. A sugestão aqui apresentada é muito interessante e permite uma base mínima para cobrança posterior. O dito, muitas vezes, não vale o escrito. Portanto um compromisso assim pode até não ser cumprido, mas é uma carta de intenções – o que para nós, que estamos engatinhando, já é um bom começo.
Desenhar áreas e Cumprir leis que determinem um mínimo de áreas permeáveis e o plantio de árvores nas calçadas pode contribuir com a redução das ilhas de calor e aumentar a recarga de aquíferos, ajudando também a reduzir enchentes. Além disso, pode oferecer alimento a pássaros e pequenos mamíferos que, sem florestas e matas, vêm para as cidades.
O retorno dos quintais arborizados e gramados dos anos 1950/1960, quando a população começava a deixar a zona rural, é uma iniciativa que pode ajudar a melhorar a qualidade de vida das cidades reduzindo a aridez do concreto e do asfalto.
Simples medidas cidadãs e de bom convívio entre pessoas, animais e plantas.
Isso é fácil de notar, mesmo morando em uma cidade como São Paulo. Tenho o privilégio de morar em uma casa com gramado e árvores, algumas frutíferas, e vejo o quanto há de mudança térmica quando avanço pelo portão de minha casa: vários graus abaixo do que a rua oferece.
Além é claro de ver pássaros vir tomar banho e comer dos frutos que amadurecem. Ou seja, não é preciso grandes coisas. Os que não possuem espaço podem ter até minhocário em casa com caixas feitas para isso. Com a possibilidade de transformar seus resíduos sólidos orgânicos em adubo. As varandas podem ter jardineiras com pequenas hortaliças.
Apenas uma mudança simples de atitude e em ser responsável pelo seu entorno.
Talvez possamos gerenciar as “facilities” do nosso próprio espaço, nossas casas, nossos condomínios de uma forma “mais” sustentável. Pequenas mudanças nos sistemas elétrico, hidráulico, sanitário, pluvial, na seleção de lixo, na compostagem, no aproveitamento de outras fontes de energia, etc provoca mudanças até na cultura da sociedade, mas é necessário realmente implementá-las na nossa rotina.
Acho que é uma questão de hábito!
Moro em São Paulo, mas por força de trabalho viajava muito à Curitiba que já tinha um trabalho de uso de sacola retornável. Gostava daquilo, comprei minhas sacolas e comecei usá-las em São Paulo desde 2007. Naquele tempo era impensável alguém chegar em um supermercado com suas próprias sacolas! Era interessante que as próprias caixas do supermercado elogiavam quando eu não aceitava as sacolas.
Não custou-me nada. E faz muita diferença!
Meu lixo é todo separado e uma vez por semana levo em um ponto de recolha e os orgânicos separo e tenho sempre terra vegetal para vasos e plantas, além de não ter cheiro ruim ainda alimentam pássaros que revolvem os restos de frutas e folhas. É um ciclo de natureza fantástico e muito fácil de implementar…
As folhas que caem uso-as também como compostagem e não tenho que ficar carregando lixo daqui para ali. O jardim ganhou uma trituradeira de folhas e galhos. Agora não temos mais que jogar fora o que é podado. Tudo volta às plantas que a produziram, agora como adubo e folhagem para reter a umidade da terra (que é regada com água captada da chuva).
Aqui foi de novo um outro grande passo: captar a água da chuva garante que num dia de chuva forte a cisterna de 1.000 litros se encha em 5-8 minutos dependendo da intensidade da mesma!
O carro comecei a parar de usar nos idos de 2011, e era um grande alívio não ter que dirigir no caos de São Paulo. Inverti a proporção de uso do carro com o rodízio de veículos. Em vez de deixar o carro em casa um dia da semana e usar nos outros fazia exatamente o contrário. Assim, passei a rodar com o carro um dia por semana para fazer compras e cumprir atividades que só de carro seriam possíveis. Os demais dias o carro ficava na garagem. Até que finalmente me livrei dele em 2012 e de todas as suas despesas fixas, que eram descabidas e intermináveis como: IPVA, seguro, estacionamento, combustível, peças, revisões, pneus, que eram muito caras. Se pegasse um táxi quando precisasse ainda seria mais barato do que manter um carro todo o tempo.
Mas infelizmente as pessoas preferem se encapsular em seus veículos e ter a falsa impressão de liberdade, presos em algum engarrafamento, disputam locais para estacionar e dão graças a Deus quando encontram seus veículos onde deixaram. Seguem todos em filas duplas com veículos de cinco lugares e que transportam sempre um único passageiro. Nem carona solidária existe como hábito nas grandes cidades.
As pessoas acotovelam-se para sempre ter a prioridade com seu veículo que é quase sempre o mais importante do mundo. E caminhar nem pensar! O carros em geral, teriam que, ao gosto popular, entrar dentro dos estabelecimentos e a cidade inteira ser convertida em um grande e interminável drive-thru.
Morei fora do Brasil algumas vezes e aprendi que podemos viver com muito menos. Não dá para atravessar oceanos carregando todos os pertences. Nossa vida precisa caber no espaço estrito de 32 kg de bagagem.
Diante disso, vamos descobrindo que não precisamos de tantas coisas para viver. E muitas vezes, o que seria conforto acaba sendo uma enorme dor de cabeça.
A vida e a forma como nos relacionamos com ela é também escola.
Não são grandes e absurdos movimentos, mas sim pequenas ações cotidianas que dão o tom da diferença. E a cada passo dado mais motivação temos para prosseguir.
Por isso, não disse nada que eu própria já não tenha feito. Acredito em atitude pela vida!
O que verdadeiramente acredito é que seja uma questão de autoconhecimento.
As pessoas precisam compreender que as transformações devem começar dentro de casa. Não cabem políticas públicas se as pessoas não são capazes de cuidar do que anda dentro de sua casa, no seu espaço, na sua rua.
Mas vamos tentando…Vida sustentável nas cidades é cultural. E isso se aprende!
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