Por que as missões evangélicas que atuam na Amazônia brasileira silenciam diante dos ataques aos povos indígenas e da atuação da bandidagem (madeireiros, grileiros, fazendeiros, garimpeiros ilegais, caçadores e pescadores ilegais) nos territórios indígenas?
Temos visto, durante o governo do presidente Jair Messias Bolsonaro, desde janeiro de 2019, o desmonte e a desarticulação das instituições que defendem a preservação da Amazônia e que defendem os povos indígenas. Uma destas instituições é a Funai (Fundação Nacional do Índio), órgão governamental que tem o objetivo de proteger e promover os direitos dos povos indígenas. O governo Bolsonaro tem agido no sentido de afastar e remover os técnicos da Funai das funções estratégicas e tem colocado esta instituição a serviço da bandidagem.
Diversas denúncias foram feitas pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pelo Observatório dos Direitos e Políticas Indigenistas (Obind), pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), pelos Indigenistas Associados (INA), pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), entre outras instituições, por conta dos riscos de genocídio de diversos povos indígenas.
O indigenista Bruno Araújo Pereira, que foi assassinado juntamente com o jornalista britânico Dom Phillips em junho de 2022, era servidor da Funai e foi afastado de suas funções na Terra Indígena do Vale do Javari porque montou uma equipe de vigilância indígena contra o crime.
Tanto o ex-presidente da Funai, o general Franklimberg Ribeiro de Freitas, como o atual presidente, o delegado Marcelo Augusto Xavier da Silva, assim como a ministra Damares Regina Alves e outros membros do governo Bolsonaro, têm atuado no sentido dos interesses da bandidagem e contra os direitos dos povos indígenas. No lugar de Bruno Araújo Pereira, foi colocado o tenente Henry Charlles Lima da Silva, na coordenação da Funai no Vale do Javari. Foi amplamente divulgada na imprensa, em julho de 2021, a declaração de Henry Charlles Lima da Silva de que era necessário “passar fogo” (atirar) nos indígenas isolados, sendo que na região há aproximadamente dezenove povos indígenas isolados.
Neste mês de junho de 2022, os Indigenistas Associados (INA) e o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) publicaram um dossiê com mais de duzentas páginas, intitulado Fundação Anti-Indígena: Um Retrato da Funai sob o Governo Bolsonaro, que detalha o desmonte e o desvio de finalidade da Funai, contra os direitos dos povos indígenas, sob o governo Bolsonaro.
Eu desafio as missões evangélicas que atuam com os povos indígenas, peço veementemente que elas leiam esse dossiê e se posicionem publicamente em relação aos crimes que estão ocorrendo na Amazônia brasileira. Não é momento para silêncio e omissão diante de tanta injustiça que insulta os céus.
Referências
Fiorotti, S. “Os defensores das missões evangélicas e sua incapacidade crítica.” Novos Diálogos, Rio de Janeiro, 08 set. 2015.
INA e Inesc. Fundação anti-indígena: um retrato da Funai sob o governo Bolsonaro. Brasília, 2022, 211p.
Uma resposta
Excelente artigo, e excelente desafio. Quando eu estudava a Amazônia do ponto de vista Biológico-Ecológico, nos idos da década de 75/80 do século passado, tive boa ideia dos interesses que se movimentam por detrás das instituições tidas como religiosas. Os índios não precisam de religião, têm as suas. Falta destacar que o índio no Brasil é um tutelado do Estado, logo, todas as ações que levem à sua morte, é CRIME, cuja responsabilidade última é do presidente da república, a FUNAI é seu agente.