Na primeira parte de consideração das dimensões, a Dimensão Meio Ambiente, abordou que o caminho para uma administração sustentável gera mais perguntas que respostas, quando a organização está comprometida em atender, para além da legislação e normatização, a preservação do Meio Ambiente.
A busca pela verdade como resposta aos clamores íntimos pela sobrevivência do planeta, dentro de um processo científico, é árdua e trabalhosa. A curva de aprendizagem, temporal, que todos necessitam para absorver a proposta demandam reflexões, testes e ensaios ao que é apresentado para este criar conjunto.
Avançando na proposta de reflexão do Meio Ambiente é trazido os principais pontos abordados, da primeira parte, do artigo ‘Desenvolvimento Sustentável: a Dimensão Meio Ambiente’:
- Meio Ambiente: todo espaço habitado ou não pelo homem. Esta dimensão engloba as reservas naturais e ambientes alterados ou não pela ação humana.
- A sociedade: organização de relações que regem o interesse de convívio social do conjunto dos indivíduos, do homem social, que dentro e não no centro da natureza, tem seu olhar partindo dele para se perceber no todo como ser vivo que necessita de proteção tal qual qualquer outro espécime do planeta.
- Administração (Gestão por Desenvolvimento Sustentável): Metodologia que objetiva ampliar a gestão das organizações, ainda que agindo em atenção aos interesses da sociedade, em uma linha de comprometimento para além do senso de conscientização da exploração dos recursos naturais.
- Desmontagem da Atividade Empresária: previamente elaborada no momento da constituição das novas atividades empresárias e imediata para as existentes, constitui-se na elaboração do projeto de procedimentos de desmontagem das empresas permitindo a fiscalização de ações sustentáveis ao avaliar as condições dos impactos ambientais no futuro.
- Gestão por Desenvolvimento Sustentável: Gestão de organizações, públicas e privadas e pelos cidadãos como Agentes de Modificação (Sociedade e Economia), sobre os Agentes Modificados (Natureza e Cultura). Conjunto de procedimentos com as melhores práticas baseados na solidariedade para a liberdade, dignidade e manutenção da vida. Responsabilidade sob a Natureza para o alcance das necessidades humanas sem a inalterabilidade do meio ambiente natural, da garantia ao progresso, do crescimento econômico e acessibilidade do patrimônio cultural desenvolvido e a desenvolver-se. Articulação concomitante de suas dimensões por meio de ações positivadas para manutenção da vida do homem social no planeta. (Em construção).
- Objetivo da Dimensão Ambiental a ser alcançado: gestão por responsabilidade com atuação para além dos limites da legislação. Utilização permanente de estudos científicos para a criação e promoção do bem estar social a partir de práticas de inalterabilidade do meio ambiente sempre em mudança.
Há muitas reflexões sobre a definição de Meio Ambiente que divergem entre si, como a compreensão filosófica o entendimento ecológico, mas que possuem em comum três constantes: a não-vida, a vida e a consciência. Este trabalho se compromete a estimular o novo olhar para novas definições aos termos conhecidos, por meio de uma percepção expandida da existência de cada indivíduo.
É defendido que o homem precisa se perceber como espécie que necessita de proteção, que não está no mundo para que este o sirva. Ao contrário, está inserido no Meio Ambiente como parte desta composição natural, incluindo sua força que modifica os espaços em sua marcha evolutiva de conhecimento em prol da sobrevivência satisfatória.
Mas paradoxalmente, deixa de ser apenas mais um animal entre outros quando passou a problematizar sobre o que é, tornando-se outro tipo de ser e vivenciando outro tipo de experiência para com o ambiente. Peter Sloterdijk (2000, p. 35) comentou:
O ser humano poderia até mesmo ser definido como criatura que fracassou em seu ser animal [Tiersein] em seu permanecer-animal [Tierbleiben]. Ao fracassar como animal, esse ser indeterminado tomba para fora de seu ambiente e com isso ganha o mundo no sentido ontológico. Esse vir-ao-mundo extático e essa “outorga” para o ser estão postas desde o berço para o ser humano como heranças históricas da espécie. […] O homem é o produto de um hiper-nascimento que o faz do lactente [Säugling] um habitante do mundo [Weltling]. […] Esse êxodo geraria apenas animais psicóticos se, com a chegada ao mundo, não se efetuasse ao mesmo tempo um movimento de entrada naquilo que Heidegger denominou “casa do ser”. As linguagens tradicionais do gênero humano tornaram capaz de ser vivido o êxtase do estar-no-mundo, ao mostrar aos homens como esse estar no mundo pode ser ao mesmo tempo experimentado como estar-consigo-mesmo. Nessa medida, a clareira é um acontecimento nas fronteiras entre as histórias da natureza e da cultura, e ao chegar-ao-mundo o humano assume desde cedo os traços de um chegar-à-linguagem.
E é esta a percepção de estar no mundo para além de uma existência natural de nascer, crescer, reproduzir-se e morrer, para um estar-consigo-mesmo ao se perceber agente transformador da natureza, que busca o encontrar-se por meio de suas realizações. Assim vem ao longo dos tempos, a humanidade, se modificando e modificando sua relação com o planeta.
Neste momento, novamente e sempre, haverá a necessidade do olhar expandido do indivíduo. É preciso ser capaz de ao mesmo tempo se perceber dentro e fora do Meio Ambiente. Olhar toda composição natural com telescópio, simbólico, em um olho ao mesmo tempo que olha para dentro de si, com um microscópio com o outro olho.
Este nível de visão não é utópico. É real e já começa a trilhar caminhos confiáveis na Administração das organizações da atualidade. Está sendo disseminado por todos os continentes o início para o processo de uma administração sustentável, ainda que distante da proposta deste trabalho que é a Gestão por Desenvolvimento Sustentável, o mundo já está se modificando dentro do olhar expandido no atendimento das necessidades do todo e do individual.
Atualmente está sendo disseminado nas organizações de todo o planeta o ESG – Environmental, Social and Governance, que em português significa ambiental, social e governança. Este termo ou conjunto de procedimentos está sendo usado para indicar mudanças profundas nas organizações, principalmente as grandes corporações e as de investimento financeiro.
A proposta consiste na adoção de práticas sustentáveis como estratégias financeiras para as empresas e, critérios de seleção destas, para os investidores interessados no Meio Ambiente. É uma gestão comprometida com os impactos ambientais e sociais.
O lucro começa a estar relacionado com a diminuição das emissões de monóxido de carbono, gestão de resíduos e rejeitos, respeito a legislação trabalhista, oferta de oportunidades por meio da igualdade de gênero e diversidade, transparência dos relatórios contábeis etc. Inicia-se nas grandes organizações, que cobrarão de seus fornecedores, uma espécie expansão em cadeia de cima para baixo.
As ações nas bolsas de valores que dependem dos acionistas, que passam a cobrar resultados, para poderem investir maior comprometimento na redução, eliminação e reparação da poluição no planeta. Evidentemente que a proposta por Gestão por Desenvolvimento Sustentável não entende a dimensão econômica como fator único para ação mesmo com sua relevância. Assim como defende que o Meio Ambiente não deve ser considerado como moeda verde ou capital natural.
Todas as ações são bem vindas e, entender que, este processo é, sem dúvida, a primeira etapa para a mudança real na relação de consumo com o planeta. Acredita-se por este trabalho que a mudança necessária ocorrerá na forma que o indivíduo social consome os bens e serviços, partindo dele, a necessidade de novos produtos (demanda) que deverão ser oferecidos. Contudo, a língua que o capitalismo compreende é o capital. Sendo assim, é natural que se inicie o diálogo de mudança dentro deste contexto financeiro.
Neste sentido, o que acontece com as demais Dimensões propostas? Como compreender a economia, a cultura e o social dentro desta nova perspectiva que se apresenta? É o que será considerado nos próximos artigos.
BIBLIOGRAFIA
GERALDINO, C. F. G. Uma definição de meio ambien-te. GEOUSP – Espaço e Tempo (Online), São Paulo, v. 18, n. 2, p. 403-415, 2014.
SLOTERDIJK, P. Regras para o parque humano. Trad. José Marques. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.