Moçambique é o terceiro país africano mais vulnerável aos desastres de origem natural. Somos vítimas da nossa localização geográfica e os eventos extremos aumentaram em todo território nacional devido as alterações climáticas. A semelhança de vários países, em Moçambique, as zonas urbanas, ribeirinhas e costeiras possuem maior colonização antrópica e com ordenamento territorial contestável.
Tem sido prático o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), outras instituições governamentais e seus parceiros estratégicos em estas alturas do ano, estarem a preparar as comunidades e a mobilizar recursos para fazer face à cheias e inundações na época chuvosa nas principais bacias hidrográficas do país (Bacia de Incomáti, Limpopo, Save, Búzi, Púnguè, Zambézia, Licungo, Messalo, Megaruma) que ciclicamente afetam as populações e suas infra-estruturas.
A Covid-19 é uma doença gravíssima, mas não pode desviar todas as atenções, consumir todo o tempo e os recursos que neste momento estariam a ser usados para activar os comités de gestão de calamidades nas localidades, no sentido de aumentar a resiliência e diminuir a vulnerabilidade.
Com o estado de emergência devido a Covid-19 e os aspetos socioculturais associados, estes comités podem estar a funcionar de forma deficitária. Em Moçambique estes comités têm tido resultados positivos na coordenação com as lideranças estatais e ONG`s que trabalham na prevenção e mitigação dos desastres.
Como referem os autores Baas, Ramasamy, Jennie, & Battista (2009); Dgedge & Chemana (2018) os comités locais contribuem na gestão de desastres porque fortalecem as comunidade em:
- Incrementar a capacidade de resiliência das comunidades;
- Proteção e salvação das vidas dos cidadãos;
- Proporcionar sistemas de aviso prévio de confiança e;
- Recuperação e reabilitação dos danos depois do evento.
Com a Covid-19 em todo território nacional, no estágio de transmissão comunitária, os ataques “terroristas” no Norte do País e o conflito militar com motivações políticas na zona centro estes comités locais de prevenção e mitigação dos desastres estão fragilizados. Assim a vulnerabilidade das comunidades face a próxima época de cheias e inundações aumentou ou ainda vai aumentar.
É óbvio que todas as atenções em termos de recursos humanos e de material “devem estar viradas para esta pandemia”, mas pode-se estar a criar um precedente que pode custar vidas humanas já na próxima época chuvosa, visto que mesmo nos anos anteriores que o INGC tem feito tanto trabalho de prevenção há sempre perca de vidas e bens em curto espaço de tempo.
É preciso reinventar-se as estratégias de prevenção de eventos extremos climáticos em tempos de Covid-19, que tem forte e justa atenção dos media, além dos impactos económicos, mas também é preciso perceber as enormes possibilidades de morte diante das cheias/inundações em Moçambique.
Referencias
Baas, S., Ramasamy, S., Jennie, D. de P., & Battista, F. (2009). Análisis de Sistemas de Gestión del Riesgo de Desastres. Una guía. Serie sobre el medio ambiente y la gestión de los recursos naturales. Cambio climático, bioenergía, control y evaluación. Retrieved from http://www.fao.org
Dgedge, G., & Chemana, C. (2018). Os comités locais de gestão do risco de calamidades e a educação sobre inundações no Baixo Limpopo, Moçambique. Revista Internacional de Riscos, II, 123–132. https://doi.org/10.14195/1647-7723_25-2_10
Imagem: Denis Onyodi: IFRC/DRK/Climate Centre (via Flickr)
Uma resposta
Muito interessante o artigo! Parabéns e continuação de um óptimo trabalho!
Publique mais, pois só assim a ciência e o país crescem!