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A Pátria, um espaço para opiniões próprias

A Pátria, um espaço para opiniões próprias

Desconhece-se quem pela primeira vez revelou o uso das letras. No entanto, de acordo com Tomas Hobbes, em Leviatã, assume-se que foi Cadmus, filho de Agenor, Rei da Fenícia, que as trouxe para a Grécia. Segundo autor, trata-se de uma invenção fecunda para prolongar a memória dos tempos passados, e estabelecer a conjunção da humanidade, dispersa por tantas e tão distantes regiões do planeta Terra.

Na prática, traduz-se num instrumento que reflete a cuidadosa observação dos diversos movimentos da língua e outros órgãos da fala, que consiste em codificar e estabelecer tantas diferenças de caracteres quantas as necessárias para mais tarde se recordar.

Deste ponto de vista, a língua é uma convenção resultante de um processo dinâmico formado a partir das experiências e do convívio uns com os outros, com o objetivo de facilitar a compreensão e gradualmente nos ligarmos, independentemente do lugar onde nos encontramos no mundo.

Foi neste âmbito que criámos, em 2016, a Ponteditora, a pensar unicamente na língua portuguesa e nos seus falantes dispersos pela CPLP e Diáspora de língua portuguesa pelo mundo. Na sequência, em 2017, fundámos as revistas Herança, Naus e o Jornal Jurídico, assim como a Pátria – Jornal da Comunidade Científica de Língua Portuguesa, sem referir a e3, publicada no mesmo âmbito desde 2014.

Não obstante isso, especialmente a Pátria, tem sido muito vinculada à CPLP, tendo, especialmente, a partir dos textos de Cristian Góes, do Brasil, e Teotónio Souza, da Índia, gerado um intenso debate em termos de prós e contras da CPLP, levando-os a concluir, entre outros aspetos, o seguinte: Apesar de uma história e língua em comum, são tantas as feridas abertas dos processos de colonização que nunca chegaremos a formar uma comunidade plena, umas vezes por desconfiança das intenções dos membros, outras por falta de interesse, especialmente dos brasileiros, como referiu Cristian Góes e reforçou Teotónio Souza ilustrando com a falta de interesse dos Goeses, tanto pela língua, como pela cultura portuguesa. Tais argumentos têm servido, também, para justificar, em termos práticos, os atrasos na concretização da CPLP, impedindo que esta se torne uma realidade e beneficie os cidadãos, conferindo-lhes maior mobilidade e oportunidades profissionais. Em vez disso, o projeto CPLP está praticamente reduzido à política e aos políticos.

Conhecemo-nos a partir das explorações marítimas e relacionamo-nos nos séculos seguintes. Relação essa que, de resto, se mantém até hoje. Quer se goste ou não, como qualquer outro compromisso longo, a nossa relação de povos tem episódios muito positivos, mas, obviamente, tem também casos muito negativos de abusos de posição dominante, exploração, entre outros aspetos de uma história em comum.

Mas, enfim, tudo faz parte da nossa história, da qual não podemos fugir às nossas responsabilidades, se possível evitando repetir os erros e potenciando as vantagens. Há, entre nós, um espaço grande e um tempo mais do que suficientes, potencialmente geradores de grandes temáticas, que suscitam acesos debates e reflexões abstratas. Por outras palavras, um significativo campo de trabalho para o conhecimento. Ao fundarmos a Pátria, não obstante a semelhança das siglas da Pátria – Jornal da Comunidade Científica de Língua Portuguesa (JCCLP) e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), suscetíveis de uma, eventual, associação, não temos qualquer objetivo político, nem outros interesses, que não sejam a ciência, a literatura, a cultura, as artes e o conhecimento em geral. Neste âmbito, damos total liberdade aos nossos autores de se expressarem, apresentado a diversidade de opiniões que nos formam e complementam, sem qualquer interesse de formar uma corrente única ou dominante, mas antes as várias correntes de opinião.

Após um curto período de existência da Pátria, podemos já concluir que os nomes das coisas que nos afetam, isto é, que nos agradam ou desagradam, são substancialmente diferentes de uns para os outros. É normal que assim seja, dado que os homens não são igualmente afetados pelas mesmas coisas, por terem significados muito diferentes. Com efeito, todos os nomes são impostos para significar nossas concepções, e todas as nossas afeições nada mais são do que concepções. Assim, quando concebemos as mesmas coisas de forma distinta, dificilmente podemos evitar denominá-las de forma diferente. Muito embora, como referimos acima, a natureza do que concebemos seja a mesma, contudo a diversidade de nossa receção dela, no que se refere às diferentes constituições do corpo, e aos preconceitos da opinião, dá a tudo a enfase das nossas diferentes paixões.

Em termos práticos, queremos com isto dizer que, não obstante o uso de uma convenção comum, os significados que um homem imagina, influenciados pelas suas experiências e interesses próprios, podem não ser coincidentes com os significados dos seus locutores. As faculdades e os defeitos dos homens, são disso um exemplo concreto. Um homem pode chamar sabedoria àquilo que outro homem chama medo, atrocidade o que para outro é justiça, e assim sucessivamente.

Assim, a Pátria surge originalmente de múltiplas Nações, publicando a diversidade de opiniões, transversal a todos os assuntos que nos afetam, incluindo, naturalmente, a CPLP, tão eloquentemente apresentado e discutido pelos colegas Cristian Góes e Teotónio Souza.

Conclui-se que o mundo é grande e diverso, mas convive-se numa faixa estreita entre um lado e o outro, sendo, por vezes, difícil passar agradando a ambos os lados. Por outro lado, verifica-se que, por vezes, não se agrada nem um lado, nem a outro. Talvez isso se deva ao facto de se apresentarem opiniões próprias.

Referências
Góes, C. (2018). A Lusofonia Invisível no Brasil. A Pátria – Jornal da Comunidade Científica de Língua Portuguesa. Novembro 16, 2018.
Góes, C. (2018). O Brasil não se reconhece na CPLP. A Pátria – Jornal da Comunidade Científica de Língua Portuguesa. Novembro 23, 2018.
Hobbes, T (2010). Leviatã, INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa.
Souza, T (2018). A memória pública da presença portuguesa em Goa no folclore em Concani. A Pátria – Jornal da Comunidade Científica de Língua Portuguesa. Maio 10, 2018.

 

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