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Crenças, símbolos e rituais funerários na Idade do Cobre em Portugal

Crenças, símbolos e rituais funerários na Idade do Cobre em Portugal

Tanto quanto se verifica na arquitectura funerária deste período, também os símbolos e rituais se revestem de algumas novidades, das quais a Estremadura portuguesa é profícua em exemplos. De entre vários elementos destacam-se as figuras antropomórficas de índole sagrada, os utensílios votivos e as peças talhadas de acordo com elementos presentes na natureza que nos remetem para a existência de cultos à fecundidade e para a crença na renovação da vida e no renascimento.

O povoado calcolítico de Leceia, em Oeiras providenciou peças de calcário com formato cilíndrico representando uma figura feminina que se supõe corresponder a uma deusa de fertilidade. Dispõe de vários atributos, tais como a representação de olhos, sobrancelhas, nariz, tatuagens faciais, toucado e um triângulo púbico evidenciado. Também se encontraram feitas de osso e cerâmica. No Algarve também há exemplos. Um conjunto de peças de mármore recolhidas na região de Pera, em Silves, apresentam mamilos cónicos, o que remeteu a interpretação para uma divindade da fertilidade calcolítica. Em Olhão, encontraram-se ídolos de tipo “Moncarapacho”, estilizados o mais possível de acordo com a figura humana. A gruta 2 de Alapraia, em Cascais, continha enxós e sandálias votivas, feitas de calcário.

Em Sintra, encontraram-se lúnulas (meias luas) de contorno recortado, representando, possivelmente crescentes lunares, uma interpretação que se baseia no contexto funerário em que foram encontradas, talvez associado à crença no renascimento. Outro elemento simbólico que se associa à fecundidade e ao renascimento, encontrado unicamente na Estremadura, são as “pinhas”, assim denominadas pela sua semelhança com as pinhas do pinheiro. Um dos exemplares foi recolhido no dólmen de Casainhos, em Loures.  Esta “pinha” apresenta ainda três serpentes longitudinais. As interpretações acerca da serpente enquanto animal sagrado, encontram-se também relacionadas com a morte e a regeneração.

Na gruta do Correio Mor, em Loures, foi encontrado um conjunto constituído por onze peças de carácter antropomórfico, colocadas na zona central do chão primitivo da gruta, provavelmente pertencentes a um altar funerário. Um outro conjunto notável é aquele composto por dez ídolos, esculpidos em falanges de equídeo, lisas ou gravas, de faces oculadas, encontrado nas cavidades laterais da Lapa da Bugalheira, em Torres Novas. Recipientes com representações simbólicas e oculadas, encontraram-se na Anta Grande do Zambujeiro, em Évora, e na Anta Grande do Olival da Pega, em Reguengos de Monsaraz, os quais possuem analogias com o exemplar da tholos do Monte do Outeiro, em Aljustrel. Este também tem representado o triângulo púbico.

Não só de novidade se reveste esta fase, há também uma continuidade para com a expressão cultural do neolítico, nomeadamente através da reutilização dos dólmenes. O achado arqueológico com maior destaque e maior carga simbólica deste período proveio de uma necrópole das Caldas de Monchique. Um machado de cobre puro, não arsenical, embrulhado num pano de linho dobrado em quatro partes. Este tecido constitui o exemplar datado mais antigo da Península Ibérica.

Em Vila Nova de S. Pedro, A. do Paço (1945) fez uma reconstituição de uma cerimónia que terá ocorrido aquando da fundação do povoado calcolítico, com base nos vestígios que encontrou. Após ter procedido à escavação do subsolo, a 2,60 metros de profundidade, verificou que as camadas estavam delimitadas em dois lados por uma linha de pedras, sendo que a camada arqueológica tinha apenas 60 centímetros, e os restantes dois metros correspondiam a um depósito compacto de barro amassado que formava o enchimento.

Na base desse enchimento encontrou-se depositado um bovino, disposto na direcção Norte/Sul, bem como outros elementos de fauna correspondente a veados, javalis (ou porcos) e cabras (ou ovelhas). Encontrou-se também uma valva de Pecten (uma vieira), uma faca, um raspador e fragmentos de duas ou três vasilhas. Ao lado da cabeça do bovino encontraram-se vestígios de uma fogueira e um recipiente liso. Sobre este conjunto ter-se-á colocado o enchimento de barro amassado. Aos 50 centímetros de espessura, em linha recta com a barriga do bovino, encontrou-se uma taça lisa, contendo fragmentos cerâmicos, uma valva de amêijoa e fragmentos de um machado de pedra polida, assentando em pequenas pedras e que circundavam o recipiente. Este recipiente também se encontrava coberto pelas pedras. Depois procedeu-se ao despejo do barro amassado, conjuntamente com materiais arqueológicos.

CARDOSO, João Luís – Pré-História de Portugal. Documento PDF. Manual de Pré e Proto História. 1º ciclo de estudos em História. Acessível na Plataforma de E-Learning da Universidade Aberta.

PAÇO, A. e JALHAY, E. – El castro de Vilanova de San Pedro. Actas y Memorias de la Soc. Española de Arqueología, Antropologia y Prehistoria. Madrid. 20, pp.1-55.

 

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