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Menés: o primeiro rei do Antigo Egipto

Menés: o primeiro rei do Antigo Egipto

Parecia que a organização necessária para empreender a reforma e a irrigação da terra em larga escala só seria possível depois de se ter projectado a máquina política, que é um governo centralizado sob um único rei. Crê-se, segundo a tradição, que Menés foi o responsável pela construção das represas do Nilo para controle das águas das inundações. É provável que a unificação do Egipto e a transformação dramática que ocasionou na coordenação e aceleração de todas as várias empresas comunais parecesse, em retrospectiva, milagrosa. A realeza e a prosperidade da terra seriam, então, indivisíveis.” (ALDRED, 1970: 50).

Quem foi Menés? Como se soube que foi o primeiro rei do Antigo Egipto? Como foi o seu reinado? São as questões de que nos ocuparemos a responder nas próximas linhas, tendo este ensaio por mote a citação de Cyril Aldred (1970).

De acordo com as fontes históricas conhecidas – as inscrições tumulares de Nagada e de Abidos, a iconografia da paleta de Hieracômpolis e o testemunho do sacerdote Manetón (época ptolemaica) – terá existido uma personalidade régia de nome Menés ou Narmer[1], que unificou os territórios do Alto Egipto (Sul) e do Baixo Egipto (Norte), e que terá sido responsável pela fundação da 1ª Dinastia, à qual sucederiam 3000 anos de história. É a partir daqui que se faz a primeira divisão crono-cultural da história política do Antigo Egipto, intitulada de período arcaico (3000-2635 a.C.), ou, se preferirmos, de período tinita, designação que deriva do nome da primeira capital onde se centralizou o poder político: This ou Thinis.

O governo de Menés foi uma monarquia absoluta e teve por símbolo o pschent, uma coroa composta pela combinação das duas anteriormente existentes; a coroa Branca Hedjet do Alto Egito e a coroa Deshret Vermelha do Baixo Egito. A monarquia também funcionava como uma doutrina religiosa, pois o faraó era descendente divino e era também ele uma divindade, o Hórus encarnado. Todos estes factos se tornaram inerentes às dinastias seguintes.

Em termos administrativos, o faraó terá exercido uma política agregadora e conciliadora sobre os “nomos”, pequenas divisões administrativas do poder local advindas do enquadramento territorial anterior, que agora integravam o Egipto unificado. Só um governo autónomo, coeso e devidamente hierarquizado é que permitiria ao faraó garantir a estabilidade política interna e fazer face às necessidades e adversidades do reino.

No plano militar, o combate aos núbios a sul, aos líbios a oeste e aos beduínos do Sinai a leste, terá sido das principais preocupações da I e II dinastias, mas apenas defensivamente e sem intenções expansionistas, pois a prioridade dos faraós terá sido a de assegurar as fronteiras, evitando a infiltração e perturbação destes povos nos domínios egípcios. De qualquer forma, subjacente ao carácter essencialmente defensivo destes empreendimentos estaria a ideia de que o cidadão egípcio era superior a outros grupos humanos, o que revelava uma forma de identificação social entre os povos que compunham o reino unificado do Egipto.

O desenvolvimento técnico da época tinita revelou-se na arquitectura com estruturas de complexidade surpreendente, como as represas e os sistemas de rega, conforme descreve Cyril Aldred (1970). Estas construções potenciaram o sucesso agrícola, principal sistema económico e de subsistência do Antigo Egipto. Assegurar a sua prosperidade e abundância também afirmava e assegurava o poder faraónico, assim justificando a união dos reinos.

No plano cultural os Egípcios desenvolveram um sistema de escrita que permitiu ao governo central registar, organizar, veicular e arquivar a sua comunicação, bem como difundir informações ou conhecimentos dentro do reino (técnicos, religiosos, científicos). Sem a escrita não teria sido possível atingir um desenvolvimento tão célere e característico desta civilização, porque a informação não tendo nenhum suporte palpável, duradouro e legível pelas classes políticas e intelectuais, torna-se frágil, dispersa-se ou perde-se.

Ainda no plano cultural, os Egípcios conceberam um calendário solar de 12 meses e 30 dias, e desenvolveram os mitos das origens do Cosmos e da Humanidade, dos quais se generalizou o de Osiris, um deus relacionado com a fertilidade, o comércio e a vida além-túmulo. Deste modo, com uma crença enraizada na ressurreição da alma, que só viveria enquanto o corpo terreno existisse, o culto dos mortos difundiu-se aliado à prática da mumificação.

Em suma, a importância da acção unificadora de Menés permitiu ao Egipto atingir um nível de desenvolvimento político, cultural e económico avançado, característico desta civilização, que de outro modo não teria sido possível, pois, faltariam os bens essenciais providenciados pela estabilidade, abundância e coordenação de interesses promovidos pela sua “máquina política” centralizada.

 

Bibliografia
ALDRED, Cyril – O Antigo Egito. Lisboa: Verbo, 1970.

TAVARES, António Augusto – Civilizações Pré-Clássicas. Documento Pdf. Manual de História das Civilizações Pré-Clássicas. 1º ciclo em História.  Acessível na Plataforma de E-Learning da Universidade Aberta.


[1] A paleta de Hieracômpolis apresenta o nome do soberano como Narmer (Nar de peixe e Mer de cinzel), nome pelo qual também ficou conhecido.

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3 respostas

  1. Porque não botou a foto inteira pra todo mundo ver que o primeiro Faraó Menés era preto? Perdeu uma chance de dizer a verdade e desmitificar essas novelas egipcias brancas da record. Ah, mas vc não faria isso né.

    1. Prezada senhora,

      1.º Ao contrário de si eu não disponho nem de certezas nem de evidências científicas que sustentem a sua afirmação relativamente à cor ou tom de pele daquele que a historiografia aponta como sendo o primeiro faraó egípcio. Tanto não sei, e tão pouco relevante me parece para classificar a sua importância, que o meu texto não contempla uma descrição do aspecto físico desta figura histórica.
      Se foi, de facto, o primeiro faraó, a responsabilidade do argumento é da documentação actual (na qual sustentei a minha argumentação), se não tiver sido, pois actualizarei os dados em conformidade com a documentação que estará, hipoteticamente, por aparecer.

      2.º A imagem no artigo pertence a uma estátua em pedra e a imagem está a escala de cinzas. Não tem cor, tem tons. Tons que só auferem características da matéria-prima e nada mais.

      3.º A imagem não está inteira por condicionantes do próprio site.

      4.º Pelo que já expliquei, mas também pelo que irei continuar a explicar, o debate do racismo não se aplica a estas circunstâncias:
      a) o termo racismo está cristalizado em cronologia própria conforme sucedeu com muitas outras terminologias;
      b) não existem raças na espécie humana, antes há etnias;
      c) actualmente, fala-se mais assertivamente destes assuntos discriminatórios usando o termo “xenofobia” (algo que também não considero ser).

      Lamento que se tenha sentido ofendida, porém, não detecto nenhum fundamento que o justifique.

      Grata pelo seu comentário,

      Atenciosamente,
      Diana Carvalho

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