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75º aniversário da libertação de Auschwitz

75º aniversário da libertação de Auschwitz

O campo de concentração de Auschwitz foi classificado Património Mundial pela UNESCO. O dia da libertação de Auschwitz foi declarado pela ONU como o Dia Internacional em Memória do Holocausto.

Entre maio de 1940 e janeiro de 1945 morreram no campo de concentração de Auschwitz mais de um milhão de pessoas, a maioria judeus, transformando aquele complexo numa das principais fábricas da morte do nazismo.

São milhares de peças que se acumulam pelas salas de Auschwitz, testemunhando com o seu silêncio o destino de um milhão e trezentas mil pessoas que ali foram mortas pela ideologia nazi. Entre as pilhas de objetos há óculos, sapatos, malas e ainda várias toneladas de cabelo de mulheres que entraram no campo.

Ainda hoje os visitantes não conseguem ficar indiferentes. Para além de milhares de visitantes que ali se deslocam de forma individual, acompanhados de familiares ou amigos, há também muitas escolas que levam turmas inteiras ao campo para que estes conheçam “in loco” a temática do holocausto estudada nas aulas.

Auschwitz é a designação em alemão da localidade polaca Oswiecim, na província de Katowice, a cerca de 60 quilómetros a sudoeste de Cracóvia, foi o maior de todos os complexos de extermínio nazis. Compreendia, efectivamente, quatro campos e trinta e oito “comandos” (casernas e edifícios militares e “administrativos”). No campo de Auschwitz, propriamente dito, os detidos, por exemplo, serviam de “cobaias” humanas para experiências ” dos tenebrosos médicos das SS, como o Dr. Joseph Mengele.

Muitos dos mártires de Auschwitz eram também crianças, muitas das quais submetidas a experiências biológicas (como os casos de gémeos). Os registos nazis relatam apenas a morte de pouco mais de duas centenas de milhar de detidos[1].

A primeira parte do campo, conhecida como Auschwitz I e à qual se acede através do portão com a famosa inscrição “Arbeit Macht Frei” (“O trabalho liberta”), foi concebida para receber prisioneiros políticos polacos. A função e cenário de Auschwitz iriam contudo mudar rapidamente.

Em 1941, o comandante do campo, Rudolf Hoess, recebeu instruções para ampliar Auschwitz, com o objectivo de ali receber os judeus destinados à “solução final” nazi. Na sua aubiografia, Hoess recorda: “No Verão de 1941, Himmler (comandante das SS) chamou-me a Berlim para me informar da ordem fatal que previa o extermínio dos judeus de quase todos os cantos da Europa e que faria com que Auschwitz se tornasse no maior matadouro humano que a história já conheceu”.

Começava, por isso, a nascer Birkenau (ou Auschwitz II), instalado a poucos quilómetros do primeiro campo e cuja construção obrigou à evacuação e destruição de aldeias polacas. Birkenau estava subdividido em diversos campos e a linha ferroviária terminava no seu interior, o que permitia fazer uma seleção dos prisioneiros que seriam enviados para as câmaras de gás, mal estes chegavam.

A destruição sistemática e premeditada dos registos dos prisioneiros do campo torna praticamente impossível saber quantas pessoas, na sua maioria judeus, foram assassinadas em Auschwitz, mas os números flutuam entre 1,5 milhões e os três milhões[2].

Nos registos do campo que sobreviveram à guerra consta apenas o nome de um português. Michael Fresco, nascido em Lisboa em 1911, morreria ali a 24 de Julho de 1942, menos de um mês depois de ter sido deportado. O português vivia, na altura, em França. Por cá, o primo Alberto Fresco reúniu os fragmentos da sua história, feitos de memórias familiares[3].

O comboio partiu às 6h15. Era o dia 25 de Junho de 1942 e no seu interior apinhavam-se mil homens, todos judeus.  O destino desconhecido para os passageiros do comboio n.º 813 era o campo de concentração de Auschwitz, na Polónia. A bordo ia Michael Fresco, um judeu português.

Portugal manteve a neutralidade durante a guerra que devastou a Europa entre 1939 e 1945, mas os portugueses não saíram incólumes do conflito. Dezenas foram transportados para os campos de concentração e alguns morreram lá. Um destino ignorado pelo seu país, esquecido por membros das suas famílias, desconhecido dos portugueses.

Michael Fresco morreu com 30 anos, apenas por ser judeu. O “Michael Strogoff”, alcunha pela qual era carinhosamente tratado em família, nas tardes de reunião que os Fresco gostavam de partilhar com os primos, em Lisboa, abandonara Portugal para se instalar na cidade francesa de Nantes, como comerciante. Foi aí que o seu futuro foi definitivamente interrompido. Para trás, deixava uma vida lisboeta que parecia alegre, nas palavras dos descendentes da família e que era uma pessoa muito extrovertida e jovial, de tal modo que ele tinha uma alcunha, um petit nom entre os membros da família. Era conhecido como o Michael Strogoff.

A Comunidade Israelita de Lisboa ainda guarda o “Termo de Nascimento” de Michael Joseph Fresco, um dos seis filhos de Nissim e Sultana Fresco, dois judeus turcos de Constantinopla que se haviam fixado em Lisboa, no final do século XIX. Michael é o único cuja morte nos campos de concentração nazis está confirmada.

Pode ter acontecido que, à semelhança de outros passageiros do comboio n.º 813, Michael Fresco tenha respondido voluntariamente à convocatória para apresentação às autoridades feita a todos os judeus estrangeiros residentes em França, a 14 de Maio de 1941, pelo regime de Vichy, e que ficaria conhecida como a rafle du billet vert.

Do que não há dúvidas é que Michael Fresco residia no Quai d’Orléans, n.º 11, em Nantes, antes de ser detido. Os nazis eram meticulosos nos registos que faziam dos prisioneiros e o certificado que atesta a morte do português em Auschwitz escapou à destruição organizada de todos os registos, pelos alemães, nos últimos meses da guerra. Além da morada de Michael, o documento indica que ele morreu às 15h20 do dia 24 de Julho de 1942, menos de um mês depois de chegar ao campo que, por esta altura, já se expandira para os terrenos em Birkenau e se tornara numa verdadeira máquina organizada de matar. Para aqueles que não eram imediatamente selecionados para as câmaras de gás, a esperança de vida era de poucos meses, por causa do trabalho escravo que eram obrigados a suportar, à subnutrição ou às experiências médicas ali desenvolvidas.

Em Janeiro de 1945, com a aproximação dos russos, os alemães procuraram apagar as provas dos crimes cometidos em Auschwitz, queimando documentos, fazendo explodir os crematórios e pegando fogo ao bloco onde eram guardados os bens dos prisioneiros, conhecido como Canadá. Milhares de prisioneiros foram forçados a integrar as marchas de morte, com destino a outros campos, enquanto outros foram assassinados. O Exército Vermelho entrou em Auschwitz a 27 de Janeiro de 1945, encontrando cerca de sete mil prisioneiros.

Os responsáveis desta macabra “campanha” de extermínio em Auschwitz foram condenados pelo tribunal de Nuremberga depois da guerra ter acabado, apesar de muitos não terem demonstrado arrependimento ou consciência daquilo que fizeram, para além de alguns dos “médicos” exterminadores terem conseguido obter refúgio seguro e impunidade junto das ditaduras militares sul-americanas.

[1] “Auschwitz”, Infopédia [online], Porto: Porto Editora, 2003-2013.

[2] “Os campos por onde passaram portugueses” por Patrícia Carvalho (texto) e Célia Rodrigues (infografia).

[3] “A história nunca contada do Portugueses nos campos de concentração”, por Patrícia Carvalho, PÚBLICO, 22/06/2014.

 

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